quarta-feira, julho 01, 2009

CARTIER-BRESSON, O FOTÓGRAFO DONO DE SEU TEMPO



Henri Cartier-Bresson, fotógrafo francês, é reconhecido como a referência do fotojornalismo mundial. Falecido em 2004, Bresson completaria em 2008 um centenário de vida. Mesmo não estando presente em carne e osso, podemos ter certeza que esse gênio da fotografia ainda é, e será por muito tempo, celebrado por todos que admiram o poder de uma bela imagem. Tamanha adoraçao nao é por acaso. A foto de Bresson não registra qualquer instante, como a maioria das fotos, mas capta o
momento decisivo, o instante capaz de expressar a essência de uma situação. Cartier-Bresson sempre foi apaixonado pela pintura e, desde cedo, realizava suas primeiras expressões artísticas com o desenho. Foi na juventude, entretanto, que ele começou sua extraordinária carreira como fotógrafo. Sua primeira imersão nesse universo foi na Costa do Marfim, um cenário bastante inexplorado pelas lentes dos fotógrafos da época. Lá fotografou com sua máquina Leica durante um ano para depois revelar as imagens ao mundo, em uma ediçao da revista “Vee”.
Guiado pelo simples acaso, por sua intuiçao e principalmente por seu olhar afiado, Bresson presenciou os mais importantes e diferentes acontecimentos nas décadas em que trabalhou como fotojornalista. Viajou para lugares como Paquistão, India, China, Cuba, antiga União Soviética, entre outros, registrando instantes inesquecíveis que, provavelmente, nao seriam tao bem retratados por outros. Cobrindo a Segunda Guerra Mundial acabou sendo prisioneiro em 1940 na Alemanha, mas conseguiu fugir em 1943. Quatro anos depois, com Robert Capa e outros dois fotógrafos fundou a agência Magnum. Conhecida por ser bastante seletiva e permitir o trabalho autoral de fotógrafos, a agencia é referencia até hoje.
A partir da década de 70, Bresson parou de fotografar e regressou às suas paixões originais: a pintura e o desenho. Ele já havia dito: “Na verdade, não estou nada interessado na fotografia em si. A única coisa que quero é captar uma fração de segundo da realidade.” Considerava que faltava grafismo na foto, apesar de seus registros serem extremamente equilibrados.
No documentário PONTO DE INTERROGAÇÃO, pude perceber como Cartier - Bresson sustentava seu próprio mito. Nao se sentia a vontade na frente das lentes - dizia que nao queria que fizessem com ele o que ele fazia com os outros -, considerava-se um "batedor de carteira" ao "roubar" aqueles instantes dos retratados, lembrava-se de muitas das fotos que nao havia tirado, era severo dentro de sua própria leveza. Como o título do filme bem demonstra, o fotógrafo frances tambem possuia a arte de nao responder as perguntas, dizia que nao gostava de tirar conclusoes, e tinha o costume de criar novas indagaçoes a partir do que lhe fora perguntado. A atitude "zen" de Bresson fica bem evidente em Ponto de Interrogaçao. Sua formaçao em pintura e filosofia pela Universidade de Cambridge influenciou seu ponto de vista e apurada observaçao. A inspiraçao do movimento surrealista e da concepçao inconsciente também acabaram por torná-lo o fotojornalista que foi. Quando indagado se o que viu acabou por tranformá-lo, Bresson respondeu : " Espero que sim".
O trabalho de Henri Cartier-Bresson deve ser encarado segundo a máxima de outro gênio das artes, Rodin: “O que se faz com tempo, o tempo respeita”. Cartier- Bresson é, definitivamente, dono de seu tempo. Foi tido como morto quando estava vivo e vivo quando já havia morrido. Ele dominava o instante, e o acaso , com certeza, sempre esteve a seu lado.

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