segunda-feira, outubro 13, 2008

Entrevista


Gilda Chataignier não só entende, como ensina sobre Moda. Afinal, seu conhecimento vem do berço, pois sua família era dona de uma fábrica de tecidos. Encantada por tudo o que estava relacionado com o assunto, Gilda decidiu estudar Estilismo. Mas também se formou em Jornalismo, e sua carreira na mídia começou na parte geral do Diário de Noticias. Exceçao numa redaçao formada por homens, seu trabalho encantou até a Odina Dantas, que a convidou para ajudar na Revista Feminina, "mãe" da Revista Domingo do atual JB. Com certo charme francês e muitas matérias sobre a moda daqui e do exterior, a revista contava com fotos compradas das agências de notícias, receitas de pratos criados por famosos (como miolos de anjo que Vinicius de Moraes dedicou à ela), entrevistas com artistas consagrados, psicologia feminina, decoração, dicas para leitoras, etc. Tudo isso com uma linguagem diferente das adotadas pelas revistas e suplementos femininos da época. Quando foi para o Jornal do Brasil, Gilda assinou uma coluna com o sugestivo nome "Passarela" e passou a frequentar os desfiles de alta costura em Paris, Milao, Londres e Nova York. Em 1965 tornou-se editora de moda do JB e teve o privilégio de entrevistar celebridades, como Alan Delon (nunca se esquecerá do beijo que ganhou dele!) e Coco Chanel (!!). Em um mundo de beldades magérrimas como Gisele Bundchen, Gilda diz que a musa do cinema italiano dos anos 60, Claudia Cardinale é a mulher mais bela que já viu. Atualmente, Gilda é professora em faculdades de Moda e Design, além de dar cursos sobre a história da moda.
Tive a oportunidade de entrevistá-la quando fui sua aluna e nesse rápido bate-papo aprendi ainda mais!

A editora da Vogue Brasil, Maria Prata, declarou em seu blog que acha desnecessária a formação em Jornalismo para profissionais que queiram escrever sobre moda. Ela mesma tem curso superior apenas em Moda. O que você acha dessa discussão sobre o diploma em Jornalismo?

Acredito que aquelas pessoas que realmente tem talento acabam por desenvolve-lo com o tempo, então não acho que a formação em Jornalismo é absolutamente necessária para que alguém queira escrever sobre moda. Sou contra o famoso "QI" (quem indica), isso é chato pois dá grandes chances a pessoas que nem sempre tem vocação para a coisa.

Quem é a "It-editora de moda" no Brasil?

A Regina Guerreiro, ainda que seu texto continue o mesmo de vinte anos atrás com aquelas expressões "Ai meus sais!", "Que frisson!"...Ieda Rodrigues do JB também é excelente. Mas, em geral, acho que falta nas redaçoes de hoje em dia o "terceiro olho" do jornalista, aquele talento que o permite identificar algo novo que vai ser uma boa noticia. A globalização tem deixado tudo igual, todo mundo preguiçoso, você acessa um site, um blog e ta tudo lá. As assessorias de imprensa de algumas marcas, por exemplo, promovem mini show-rooms e os jornalistas apenas contam o que lhes foi passado, eles não correm mais atrás de pesquisar e descobrir algo novo. Acho também que o jornalista não pode ser preconceituoso e ficar só falando sobre as grandes marcas.

O que é uma pessoa estilosa?

É uma pessoa fiel a si mesma, que não se "pendura" a um modelito. Sabe sua identidade e usa o que acha melhor, aquilo que sabe que combina com ela.

Qual é o estilo do brasileiro?

Tudo é muito massificado, as pessoas tem medo de ousar, de errar, muito por conta da imaturidade. As brasileiras tem sempre cabelo muito comprido e usam microssaia com algum saltão. Na França, por exemplo, as pessoas exibem algo de pessoal, um detalhe diferente ou uma mistura de estilos e conceitos, tanto que você sai na rua e não todo mundo se vestindo igual como é aqui.

No Brasil o modo de se vestir, em geral, indica a classe social do individuo?

Acho que em qualquer lugar. Nos países mais desenvolvidos talvez menos porque as lojas de marca acabam sendo mais em conta, você só percebe que a pessoa é rica porque algum detalhe a denuncia. Mas em geral não tanta distinção quanto nos países mais pobres. Aqui no Rio, por exemplo, posso dizer que os moradores da Zona Sul-Norte, Barra e subúrbios tem maneiras diferentes de se vestir.

Você acredita que a moda brasileira pode ser democratizada sem sair perdendo?

Pode mas vai levar tempo. O mundo da moda é extremamente vaidoso. As grandes marcas querem criar para um elite, o que lhes garante o tao sonhado status, atestado de sucesso. Há uma desunião muito grande entre as pessoas da moda, o que faz com que essa atividade fique fragmentada e perca seu caminho natural. Para que a moda se democratize deve haver uma melhor concepção da sociedade, da economia e dos consumidores. As classes "C" e "D" e as mulheres de meia idade são seguimentos menos glamourosos mas que também merecem se vestir bem.